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Artigo - O troféu das entregas e as reclamações de dirigentes malas que não receberam nenhum troféu pela porta da frente, nem pela porta de trás... ou porque os bambis também são tricolores

Wagner Braga Batista

 

 

O Fluminense restaurou a dignidade do futebol brasileiro, dos bambis e retomou a trajetória ascendente da cordialidade na terra brasilis, que estava sendo devastada pelo salve-se quem puder.

 

Não é exaustiva a conclamação, feita pela imensa torcida tricolor para que todos participem da restauração do futebol brasileiro e da incomensurável felicidade coletiva. Esta obra, fruto do ecumenismo e da generosidade das torcidas coirmãs será partilhada com todos.

 

Depois que todos os times se irmanaram, reconhecendo o grande feito do campeoníssimo gramsciano de 2010 e se renderam ao brilhantismo tricolor, chegou o momento da verdadeira entrega, da comunhão, da partilha e do comprometimento com a emancipação dos pobres e excluídos.

 

O Fluminense convida todas as torcidas para a vivenciar a exegese concretizada na figura do minúsculo e grandioso Conca, que encarna a superação dos fortes pelos fracos, das elites pelos marginalizados e da soberba pela humildade tricolor.

 

Na festa de entrega do troféu ao campeoníssimo gramsciano de 2010, resgatado de agentes dos lucros da Copa de 2014 e dos traficantes de futebol suíços, entocados no Complexo do Alemão, houve espaço para toda sorte de manifestações e entregas.

 

Só não houve troféus para os que entregam o futebol brasileiro para atravessadores, marqueteiros, dirigentes laranjas, vampiros de jogadores, empresários de malas voadoras e Batmans de fins de semana. Este time de delinqüentes, que treina em Alpes suíços, nos Emirados Árabes, nas bolsas de valores e no sitio do goleiro Bruno, está a dever um desempenho à altura das expectativas de todos os torcedores do futebol brasileiro.

 

Na festa, houve de tudo.  Mas, entre a agiotagem e os marqueteiros, prevaleceu a omertá, o silêncio cúmplice dos que privatizaram o Brasil, apropriaram-se do nosso futebol, entregaram nosso patrimônio nas mãos de agenciadores e negociantes das habilidades de jovens jogadores.

 

Em meio a muita alegria, choro pelo leite derramado, vaias mil, exultação pelo triunfo tricolor e um tragicômico desfecho para uma promessa de compra, denunciada pelo Emérito Presidente do Corinthians.

 

Vil Teixeira, sob risos e vaias, reiterava, a todo instante, que futebol se ganha no campo. Enquanto encenava sua peça burlesca, caiam serpentinas, confetes, votos vendidos na Suíça e apitos de árbitros de concursos de beleza.

 

Com o rosto desfigurado e a expressão abatida, confundiu-se. Chamou o finado cacique Juruna, para entregar um pio de jacutinga em louvor aos homens do apito.

 

Como prêmio de consolação pelo centenário, o Excelentíssimo Sandro Meira Ricci recebeu o título de melhor apitador do ano como reconhecimento por serviços prestados, não assinalando  pênaltis e impedimentos contra o Corinthians.

 

Nesta parte do show, um mágico de quintal, fazia verdadeiros milagres.

 

Arrancava resultados de um baú de surpresas, tirava pênaltis do chapéu, anulava gols legítimos num trilar do apito e fazia levitar campeões de arremedo. Do bolso do colete, surgiam contratos milionários, craques do nada apareciam em manchetes e artilheiros cabeças de bagre eram gerados em tubos de ensaio.

 

A salada geral estava farta e atendia a todos os gostos. Porém, para contrariedade de quem curte rock and roll e fox-trot, só dançavam Conca la Conca.

 

Esta balada, que anima ambientes abertos, arejados, iluminados e transparentes não toca na sede da CBF e tampouco se ajusta à seleção argentina.  Tem como requisitos, talento, criatividade, abnegação, cataratas de risos, gestos de euforia e comprometimento com a camisa do time.  Em seu desprendimento, dispensa lágrimas de adversários, voluptuosas malas brancas, mutretas e a cara de bunda do presidente da Confederação Busineira do Furtobol.

 

E haja vaias para Vil Teixeira.

 

Dando seqüência ao espetáculo, um show de transformismo.

 

Na comissão de frente de uma escola de samba, bailarinos apresentavam-se. Inicialmente, como mafiosos. Súbito transformavam-se em dirigentes esportivos, depois em negociantes de contratos de televisão, em abocanhadores de propinas de patrocinadores, em agentes de marketing e cafetões de jogadores de futebol. A um só tempo, estavam todos em um só personagem. Esta surpreendente metamorfose, ovacionada de pé, sintetizava a lógica recente do futebol.

 

A apresentação seguinte encantou a todos.

 

Numa a mirabolante coreografia do ilusionista, aproveitando-se do palco, da visibilidade, do espetáculo e da festa, pontificavam cartolas de todos tipos e feitios. Patrocinadores e dirigentes de shows de estelionato ocupavam o segundo plano.  No momento seguinte, com o apagar das luzes, num piscar de olhos, refugiavam-se no breu das negociatas escusas.

 

No curto espaço em que se faziam presentes no palco, para demonstrar operosidade, cravavam  dentes na jugular de jogadores, penduravam-se em seus salários, beneficiavam-se de suas performances e se mostravam especialistas na promoção de manipulações bem urdidas e promiscuidade em toda e qualquer circunstancia. Como pano de fundo, o prodigioso ilusionista desenhava na penumbra um vasto painel do nosso exaurido futebol brasileiro.

 

Dando curso à coreografia, dirigentes laranjas, vestidos de benemerentes e apaixonados por jiriquitas filantrópicas, associavam-se a patrocinadores de maracutaias bem intencionados. Articulados com técnicos de futebol e empresários de jogadores formavam grandes equipes para jogar contra seus próprios clubes e contra todos nós, desavisados torcedores.  Armavam-se de assessores de imprensa  e da mídia liberta de preconceitos para expulsar mulheres das arquibancadas do Emirados Árabes e promover honrosa lavagem de dinheiro em nosso nome.

 

Tinha andamento, então, uma tabelinha inédita. Passava pelo Fisco, controlava o Executivo, driblava o Judiciário e dava canetas em parlamentares. Pra surpresa do público, quando mais enfiavam entre as pernas e botavam grana no bolso de deputados e de senadores, mais parlamentares exultavam e se candidatavam a levar bolas entre as pernas.

 

O único descontentamento era com o alto preço cobrado pelo grotesco espetáculo.

 

Indiferentes, parlamentares recolhiam com as mãos bolas que passaram entre as pernas, enfiavam nas meias, nas cuecas, em isenções fiscais, nas ruínas do Maracanã, em grandes e suntuosos estádios na floresta amazônica em nome do desenvolvimento sustentável.

 

Insaciáveis, queriam cada vez mais. Mais e mais, desenvolvimentos sustentáveis, negócios verdes e grana de qualquer cor. Além de jetons, exigiam cachês para fazer jogo de cena, aprovar legislações lesivas, vantagens abusivas e comer o botim consorciado.

E, novamente vaias para Vil Teixeira.

 

Na hora dos discursos, num notável esforço, apresentaram-se miniaturas de ministros equilibristas. Seguravam-se em suas próprias palavras e demonstrando inegável viscosidade, capacidade de bajulação e adesismo, bem como devoção mística ao camarada Lula, tentavam se manter grudados no primeiro escalão do próximo governo.

 

E haja vaias para Vil Teixeira.

 

Na catarse geral, Ronaldo Epifenomeno confundiu uma apresentadora com um travesti e fez uma proposta indecorosa. Contestado pela mala branca, reclamou do preço cobrado pelo michê e se pronunciou favorável à criminalização da união entre casais do mesmo sexo. Inconformado, dirigiu-se a uma delegacia de policia prestou queixa contra o aborto e a discriminação dos carecas.  Dizendo-se indignado com a presença e a indiscrição das torcidas num quarto de motel, confidenciava seus dissabores dançando Conca com o rosto colado no rosto do Presidente do Corinthians.

 

E o show chegava ao fim.

 

A apoteose gerada pelo campeoníssimo gramsciano de 2010, sofreu abalo quando anunciaram  a maldade praticada contra nossos coirmãos corintianos.

 

O pobre Corinthians caíra no conto do vigário.

 

Pagara milhões por malas brancas, azuis, cor de rosas, amarelas, perfumadas e levou apenas uma simples mochila em 3D, de terceira classe e com cheiro de coisa roubada.

 

Investiu na fortuna de árbitros, nas ações da CBF, na construção de um novo campo para os sapos e ratazanas da CEASA paulista, apostou na visibilidade e no transito de seus dirigentes. Deu com os burros n’ água.

 

Na presunção de que o DNA de todos cartolas aderiria à cartolagem, pagou gato por lebre. Comprou um título de sócio campeão de 2010 e foi ludibriado pelos vendedores. Ao invés do título, entregaram-lhe um chiclete mascado, uma foto do camarada Lula assinada pelo botox de Marta Suplicy e uma réplica da Taça do Fluzão autografada: terceiro lugar.

 

Revoltado, o presidente do Corinthians reclamava com os bambis.

 

Solidários, endossamos sua manifestação.

 

Num ato de justa indignação, repetia que entrou no campeonato pela porta da frente e repelia qualquer tentativa de que entrassem pela sua porta de trás.

 

Num momento de sensatez, reconheceu que o Fluminense é, de fato, um time universal, acolhedor e campeão da cordialidade, posto que abrigava a todos, sem distinção de sexo, de cor, de crenças e de convicções políticas.  Sem animosidades e com bastante respeito, acolhia seus coirmãos urubus, porcos, papagaios, gaviões e bambis.

 

Por isto, o Fluminense, deveria ser reconhecido, não só como campeão da cordialidade, como também dos direitos humanos.

 

Sem perder o ritmo, os torcedores tricolores nos balcões do Teatro Municipal do Rio de Janeiro denunciavam a discriminação das mulheres no Campeonato Mundial de Clubes realizado nos Emirados Árabes.  Em nome do desenvolvimento sustentável, do liberalismo dos sinais trocados e da grana no bolso, os organizadores do evento não hesitaram em expulsar todas mulheres dos estádios.

 

Solidários com as mulheres torcedoras do Fluminense e de todos os times brasileiros, milhares de faixas estavam apostas nos balcões. Denunciavam as ambigüidades do respeito à cidadania, à diversidade e aos direitos sociais embaladas pelo liberalismo da grana fácil, da opressão étnica e  da discriminação feminina.

 

E os aplausos do Teatro Municipal ecoavam por toda a terra brasilis, resgatada e libertada dos carecas da ambigüidade, no glorioso mês de novembro de 2010.

 

E enquanto isto, no país do Centenário, os magoados habitantes centernadas, lamentavam que os discriminados travestis de Ronaldo Epifenomeno, também impedidos de acessar estádios e  hotéis das concentrações do Corinthians, não tivessem mostrado o mesmo desempenho que os alegres, festivos, aguerridos e exultantes bambis tricolores.

 

E haja alegria nas terras brasilis.

 

Sem preconceitos, sem discriminação, sobrava muito verde, branco, grená e as cores do arco-iris para serem despejadas em todos corações. 

 

E haja vaias para Vil Teixeira, FIFA et caterva e muita alegria brotando por todos os recantos de nosso imenso Brasil para saudar o campeoníssimo gramsciano, de 2010.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 09/12/2010