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Artigo - Fluminense, assim estava escrito...

Wagner Braga Batista

 

Tomei um susto enorme. Ao acordar, o Cristo Redentor tinha desaparecido. Pensei que fosse fruto da ressaca de véspera. Esfreguei os olhos e me dei conta de que, também faltava na paisagem do Rio, o bondinho do Pão de Açúcar e vários trechos da orla marítima.

 

Desesperado, pensei: como vou provar, para imensa torcida tricolor de Campina Grande, que estava no Rio de Janeiro para assistir a sagração do campeonissimo. Sem Cristo Redentor e do Pão de Açúcar não há Rio de Janeiro e nenhum registro urbano subsiste aos testes de veracidade.

 

Telefonei para a defesa civil, para o corpo de bombeiros, para os achados e perdidos, para um amigo jornalista, tentei me comunicar com o papa João XXIII, mas todas tentativas foram infrutíferas. 

 

Ninguém sabia do destino destas expressivas belezas naturais, subtraídas da paisagem.

 

O que fazer para comprovar a presença no Rio de Janeiro? Nenhuma fotografia seria mais inverídica do que a cidade expurgada de suas belezas.

 

Só restava o Fluminense. Precisávamos resguardá-lo de qualquer acidente, suborno, contaminação, chantagem ou roubo.

 

Num dia radiante como este domingo, era preciso salvar a imagem do Rio de Janeiro. O Divino cumprira a promessa e nos ofertara um belíssimo dia de sol para banhar de luz o espetáculo do campeão gramsciano de 2010.

 

O Fluminense tornara-se o último exemplar de uma espécie em extinção que renascia das cinzas.

Sinto-me na obrigação de dizer que, nestes anos de maus augúrios, o Fluminense virou uma metáfora de rebaixamento.  Hoje é a consumação do irreversível avanço da cordialidade e da generosidade que se dissemina em nosso país.  O entusiasmo é tanto que os baianos deixaram de lado o axé.

 

Os cosmopolitas baianos aderiram definitivamente à universal saudação: Fluminense!!!

 

 Mais consoante com o estado de animo, a alegria de todas torcidas e a felicidade coletiva esta saudação passou a constar o livro de recordes, de todos anais acadêmicos, técnico-científicos e revistas de costumes, bem como do famigerado index da FIFA e da CBF.

 

Fábricas japonesas, depois que descobriram o Fluminense sobre a terra, revisaram seus métodos de fabricação. Perceberam que a performance tricolor superava tudo que tinham arduamente desenvolvido. Constaram que o desempenho deste grande time era expressão de disciplina, abnegação e fidelidade aos princípios esportivos. Então acordaram mudar seus métodos de produção, sua escrita e seu idioma. A partir daí aderiram incondicionalmente à Muricy Ramalho e  por conseqüência ao tupi-guarani.

 

Dentro em breve, nós, que somos apenas milhões de tricolores , seremos contabilizados em bilhões. Os exércitos chineses, ressentidos de Mao Tse Tung e carentes de um novo livro vermelho, aderiram à cartilha verde, branca e grená. O Fluminense tornou-se o grande timoneiro que guiará os povos da Ásia, África, Oceania e América Latina em direção á cordialidade brasileira.

 

E a imensa torcida tricolor, sem temores e sem ressentimentos, convidou a todos, mesmo aos desafetos e adversários a se despirem de rancores e animosidades, para que se deixem  contagiar pela cordialidade, a dignidade no futebol e a probidade na prática esportiva.

 

O Fluminense, mais do que uma festa restrita de uma só torcida, é um convite à alegria. Sintam-se participes e construtores do novo futebol brasileiro.

 

E assim, convidamos a todos, a assistir o espetáculo que tomara conta do Engenhão, se espraiava por todo o Rio de Janeiro e graças aos radinhos de bilha era transmitido sob a forma de felicidade coletiva, para todos os brasileiros, sem distinção de crenças religiosas, convicções políticas, renda, sexo e adesão a outras torcidas co-irmãs.

 

E o sol iluminava todo Brasil em homenagem ao espetáculo que se encerraria as 19 h do dia 5 de dezembro de 2010.

 

A confraternização de todos os povos e bandeiras no estádio do Engenhão, também reunia etnias, praticantes de todas malas brancas, optantes por gêneros e até mesmo, eventuais gatunos e descuidistas que aproveitando a euforia e a celebração ecumênica, bateram minha carteira e levaram minha máquina fotográfica.

 

Desvencilhado do compromisso histórico de registrar as mais verídicas cenas de gentileza e cordialidade no futebol brasileiro, pude dedicar-me apenas ao duro ofício de torcer e roer as unhas, abnegadamente.

 

Enquanto o Fluminense, apesar de Washington, o zagueiro do time adversário, seguia inabalável para cumprir sua vocação histórica de sagrar-se campeoníssimo gramsciano de 2010, no palácio do planalto o camarada Lula, sofria amargamente com o uso de botox, com o retorno Palox e o declínio do Corinthians, que afundava nas enchentes do pantanal.

 

Os pobres irmãos corintianos amargavam o comprometimento e o desgaste com a claque de Vil Teixeira e as sucessivas denúncias sobre a ação da conhecidíssima Mão Grande.

 

Nem o companheiro gatuno, que se aproveitou do meu descuido para subtrair minha máquina fotográfica, agiu com tanto desplante. Segundo cronistas esportivos, foram o21 pontos levados pela gentil Mão Grande. No entanto, o companheiro descuidista levara apenas uma pequena máquina fotográfica, não tentara surrupiar um titulo, nem tampouco rebaixar times congêneres.

 

 As 19 h o Fluminense se sagrava, como estava escrito, campeonissimo gramsciano de 2010.

O dia de sol em louvor a brilhante campanha deu lugar a uma torrencial queda d’ água pra lavar tomas as mazelas e falcatruas do futebol, brasileiro, da FIFA e da CBF.

 

Graças a esta providencial ação do Divino, as comemorações tricolores ficaram adiadas para sempre.

Por fim, no cerco do Complexo do Alemão descobriram agentes do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, portavam trezentos quilos de lucros do evento, mil e duzentos papelotes de isenções fiscais, quinhentas e cinquenta mil baganas de contratos televisivos, três cédulas de votos para países sedes da Copa do Mundo de 12018 e 2022 que não tinham sido vendidos, uma miniatura falsificada de Ministro do Esporte, treze deputados e cinco senadores tomando banho turco e para surpresa de todos, enterrados no piso de um moquiço o Pão de Açúcar e vários trechos da orla marítima.

 

Na fuga, um meliante foi detido com o Cristo Redentor no bolso. Todos seriam comercializados em bancos suíços, em contratos publicitários, embalariam fabricas de cerveja e seriam levadois como adornos para paraísos fiscais.

 

Flagrado com a mão na botija, afirmou que todos esses delitos foram praticados na Suíça  e exigia ser entregue a júri especial. Queria ser julgado pelo tribunal filantrópico que cobra apenas multas filantrópicas para bemerentes, patrinonialistas, sócios proprietários da privatização de republicaa e torcedores da FIFA.

 

Na casa de um traficante, encontraram trezentas e duas AR 15 e uma réplica da taça de campeão brasileiro de 2010, que não fora entregue ao Fluminense.  Nela, uma placa raspada trazia uma dedicatória de vil Teixeira para o presidente do Corinthians. Onde se lia o número 1, em algarismos romanos, foram acrescentados dois tracinhos, III.

 

Este código está sendo analisado pelos peritos par Policia Federal e acredita-se que seja uma senha para os que venham a ocupar o terceiro lugar do campeonato brasileiro. 

 

Desculpem-nos a falta de modéstia deste humilde e sereno tricolor que desceu dos céus apenas as 5 h na cidade de João Pessoa. Por incrível atraso, aportou em Campina Grande, apenas um dia depois que a felicidade coletiva havia se espraiado por todo Brasil.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 06/12/2010