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Técnica de ensino usa simulação da história

Modelo, como é conhecido, faz com que alunos aprendam representando

 

O clima é tenso na sala em que Getúlio Vargas discursa sobre a revolução que os paulistas tentaram levantar. No espaço ao lado, o papa Pio IX está reunido no Concílio Vaticano I, debatendo temas teológicos. Ao longe, se ouve gritos de "Abaixo o bolchevismo". Tudo isso no mesmo espaço, nas salas de aula de uma faculdade, onde estudantes do ensino médio simulam fatos históricos - uma técnica de ensino e aprendizagem que mistura teatro com realidade

 

Também chamados de modelos, esses eventos propõem que o participante - aluno do ensino médio ou universitário - simule situações reais vivenciadas nas mesas de negociações diplomáticas, exercitando habilidades como a oratória, a escrita, a lógica, o trabalho em grupo, a identificação de uma situação-problema e sua resolução. O método, que começou dentro de universidades, ganhou encontros anuais e novos adeptos no ensino médio.

 

Em São Paulo, existem três eventos desse tipo voltados para alunos do ensino médio: o Fórum FAAP, organizado em maio; o São Paulo Model United Nations (SPMun), que teve neste ano sua primeira edição; e a Simulação para o Ensino Médio (SiEM), realizada na última semana. Os dois primeiros se dedicam exclusivamente a simulações de comitês das Nações Unidas, enquanto a SiEM propõe aos estudantes situações e desafios históricos.

 

Para os estudantes, a maior atração é a possibilidade de poder reviver e entender fatos históricos, modificando seu curso durante as representações. Eles estudam o tema e se vestem de parlamentares ingleses, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), líderes políticos, religiosos e representantes de veículos de comunicação.

 

Já os professores enxergam nesses eventos elementos positivos para a realização do Enem e de vestibulares. "As simulações possibilitam a visualização de situações-problema, que são a base do Enem e de várias provas de vestibular. Além disso, há um excelente trabalho da velocidade argumentativa", diz Pablo Reimers, professor de Língua e Cultura Hispânica do Colégio Magister. "Os alunos passam a ter domínio do objeto estudado e têm de dialogar com perguntas e conteúdos que são cobrados nos principais vestibulares."

 

Joana Perrone, que está no 3.° ano do colégio Nossa Senhora das Graças, vê nas simulações uma maneira lúdica de aprendizado. "Ao participar de modelos, acabo aprendendo sem necessariamente ter de sentar e só ler”.

 

Marcello Delai, do 3.° ano do Porto Seguro, diz que os conhecimentos adquiridos não são apenas históricos. "Ao entendermos diferentes ideias e posições, conseguimos formar e reagir a diferentes percepções, complementando nossa formação como cidadãos."

 

A professora de geografia Regina Mara da Fonseca trabalha há 10 anos com um modelo interno do colégio Bandeirantes. A técnica, que está sendo adotada cada vez mais por colégios particulares, é vista por ela como "a ferramenta pedagógica mais completa". "O aluno aprende a falar, ouvir, escrever, usar da diplomacia. É um tipo de aprendizado ativo."

 

Laboratório

 

"As simulações seriam nosso laboratório, a atividade prática da área de humanas", argumenta o professor de história do Colégio Magister, Maurício Parsi. Para ele, as simulações usam a dramatização como método de ensino em sala de aula. Os alunos entram no clima teatral e acabam incorporando o personagem, como mostra Lucas de Carvalho Moreira, de 17 anos, do 3.º ano do colégio Leonardo da Vinci, em Brasília. Trajando indumentárias militares, Lenin, como ficou conhecido, revela que tem de atuar. "O participante de simulações é um ator."

 

Jonas Tavares, do 2.° ano do Anglo Cassiano Ricardo de São José dos Campos, não perdeu por um minuto a pose imponente de Vargas em sua simulação. "As simulações também são positivas porque treinam sua segurança e confiança." Seu interesse nesse tipo de evento surgiu em seus próprio colégio. "E também porque eu quero seguir a carreira diplomática", diz.

 

Entre os participantes, porém, não há apenas interessados na carreiras humanas. Estudantes que pretendem prestar Medicina, Engenharia e até mesmo Física aproveitam a experiência adquirida durante as simulações. Marcello disse querer Arquitetura, mas que agora não descarta a possibilidade de cursar Direito. "Comecei a pensar nessa segunda possibilidade depois de começar a frequentar as simulações. Elas podem tanto ajudar quanto confundir na escolha da profissão", analisa.

 

Conhecimento

 

LUCAS MOREIRA - ALUNO DO LEONARDO DA VINCI

"Nos modelos, obtenho conhecimentos específicos e gerais que, de outra maneira, não teria contato. Além disso, temas abordados no vestibular estão sempre presentes nas discussões."

 

REGINA MARA - PROFESSORA DO BANDEIRANTES

"O maior retorno vem dos pais, ao ver que seus filhos passam a ter opinião e a ser mais participativos dentro e fora da escola."


 

(Estadão)


Data: 13/09/2010