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Sonhar demais com o vestibular pode ser um problema

Além do sono, jovens devem tomar cuidado com a saúde durante estudos

 

Associar vestibular a sonho é, para muitos estudantes, um processo quase automático. Nada que soe absurdo dados os esforços empregados na tarefa de garantir uma vaga na universidade. Exercícios, aulas, palestras, leituras e simulados. Isso tudo aliado à necessidade de uma boa saúde física e mental. Afinal, negligenciar esses aspectos é risco certo para o sonho do vestibular. Sonho, aliás, que parece ser, muito mais do que um clichê nesse contexto, forte indicativo de como anda a cabeça dos vestibulandos. E nesse caso, sonhar demais, pode significar um problema.

 

Pesquisa realizada pela equipe do neurocientista Sidarta Ribeiro, do instituto internacional de neorociência de Natal, que também é professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), analisou o que os vestibulandos que tentavam uma vaga na instituição em que ele leciona sonharam um dia antes da prova. O resultado mostrou que a grande maioria que foi bem no teste havia sonhado razoavelmente com a prova, isto é, nem muito e nem pouco. Já os que sonharam muito ou tiveram pesadelos apresentaram um rendimento ruim. A possível explicação é a de que sonhos demais elevam o estresse e atrapalham o desempenho dos estudantes.

 

Segundo Rafael Scott, doutorando em Psicobiologia e integrante da equipe de Ribeiro, a presença das provas nos sonhos se deu nos estudantes que estavam mais nervosos com o vestibular. "Nesses casos, o ideal é que o vestibulando busque maneiras de aliviar tal estresse, seja através do lazer, conversa com colegas e familiares, ou altere o modo como encara o desafio. Em casos extremos, recomenda-se que o candidato busque a ajuda de um profissional", explica Scott.

 

Para os candidatos que têm sonhado muito com a prova, Scott afirma que os sonhos funcionam como indicadores de fatos relevantes que se passam dentro do nosso subconsciente. Dessa forma, é necessário buscar em si mesmo a resposta do que provoca esse reflexo noturno. "Se o aluno tem pesadelos recorrentes, talvez seja porque não tem se preparado da forma adequada. É importante passar por esse processo de autoavaliação e auto-conhecimento", acrescenta o doutorando.

 

Fernando Mazzilli Louzada, mestre e doutor em Neurociências e Comportamento e professor da UFPR, acredita ser difícil relacionar o conteúdo do sonho com o desempenho alcançado no vestibular, mas considera importante que o estudante durma 9 horas por dia. "Seria ideal que os estudantes dormissem o essencial e evitassem essa desregularidade. Eles dormem pouco durante a semana e tentam tirar o débito do sono no final de semana, dormem muito no domingo e tem a disposição comprometida na segunda-feira", alerta ele. Entretanto, para o professor da UFPR, não adianta apenas ter quantidade de sono, mas sim qualidade. "O estudante precisa criar um ambiente adequado para dormir, evitar claridade, estar com a TV e aparelhos de som desligados. Além de não ingerir chocolates e bebidas com cafeína, como refrigerantes e cafés", aconselha.

 

Armazenamento de informações

 

Segundo Louzada, é durante o sono que as informações e acontecimentos ficam armazenados na memória, portanto esse tempo de descanso é fundamental. Quando o sono é ruim, surgem problemas como déficit de atenção e outros distúrbios, coisas que nenhum estudante quer as vésperas da prova. Louzada ainda aponta que dormir bem melhora em cerca de 10% a 15% a facilidade de acumular o conhecimento. "Num vestibular, 5% é muito. Se você comparar a nota do último aluno que entrou e do 1º na lista de espera fica fácil de ver que nessas provas qualquer mínimo detalhe pode fazer a diferença", alerta ele.

 

De acordo com Louzada, diversos artigos de pesquisadores do mundo todo procuram encontrar um consenso também quanto ao cochilo depois do almoço. Ele destaca que até mesmo a soneca pós-refeição tenha papel importante na trajetória dos vestibulandos. Louzada defende cochilo de aproximadamente 40 minutos após a refeição. "Se o estudante estiver com sono, vale a pena dar essa descansada, pois à tarde ele terá mais disposição para estudar e com isso, o rendimento com relação ao conteúdo aprendido será maior", declara ele.

 

E com a proximidade do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e dos vestibulares, os estudantes pré-universitários acabam por se dedicar demais aos estudos e se preocupam menos com a saúde. Nesse rumo, além do sono, outros aspectos fundamentais para a boa saúde física e mental são afetados. Muitos se esquecem que para fixar o conteúdo aprendido é preciso, além de bom sono, cuidados com a alimentação.

 

Comer direito têm influência na capacidade de aprendizado. O alerta é de Fernanda Pisciolaro, nutricionista e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso). Ela sugere que alimentos muito pesados sejam evitados 2 horas antes de dormir. "Se for preciso comer algo, é preferível que seja algo leve, como frutas, iogurtes, sucos", resume ela. Evitar ingerir muitos alimentos gordurosos também é uma dica pois, de acordo com Fernanda, estes podem interferir na atenção, memória e humor do estudante.

 

Além disso, Fernanda destaca a importância da prática de esportes e um momento de lazer como essenciais. Segundo ela, o estudante precisa ativar o sistema cardiovascular seja ao passear com o cachorro, seja durante um jogo de futebol com os amigos. Essa atividade deve ser regular. O lazer também não deve ser esquecido, pois uma pausa nos estudantes é importante para dar refresco à mente. Cinema, teatro e leituras que não sejam apenas obrigatórias podem fazer com que o estudante saia um pouco da sua realidade e possa relaxar um pouco.

 

(Universia)


Data: 09/09/2010