Na hora de escolher a profissão, só ajuda da escola não é suficiente Por focarem a formação dos alunos, colégios dificilmente conseguem oferecer um atendimento mais personalizado Para quem tem 17 ou 18 anos, o segundo semestre é sinônimo de escolha. É nesse período do ano que os maiores vestibulares do País abrem suas inscrições e a lacuna em branco na ficha, onde se lê “carreira”, passa a ser a maior preocupação dos vestibulandos. Para quem ainda está em dúvida, os especialistas no assunto garantem: feiras de profissões, palestras e visitas a universidades, recursos oferecidos pelos colégios, não são suficientes para ajudar na tomada de decisão. “As escolas são limitadas. Nem sempre conseguem explorar com muita profundidade a personalidade de cada estudante, o que dificulta um atendimento mais personalizado”, explica Flávia Marques, orientadora profissional da Colmeia, organização educacional sem fins lucrativos que atende jovens. “Isso não invalida o trabalho delas, claro, mas é preciso entender que o processo é muito mais complexo do que isso.” Para a especialista em orientação profissional Lílian Feingold, a escola precisa se ocupar mais da formação do aluno do que da resolução do conflito vocacional. A dúvida na hora de escolher, de acordo com Lílian, decorre principalmente da dimensão da decisão a ser tomada. “Em toda a escolaridade, o aluno não escolheu seus professores, as salas de aula e os conteúdos. De repente, com 17 anos, ele tem de tomar uma decisão dessa proporção. É claro que assusta.” Para Silvio Boch, diretor da Nace Orientação Vocacional, a escola não deveria deixar a discussão para o fim do ensino médio. “Ela poderia incluir a questão profissional de forma transversal desde o maternal. Uma ida ao zoológico deveria servir para, além de olhar os bichos, chamar atenção para o trabalho do veterinário e do tratador.”
Mundo dinâmico As dúvidas do jovem de hoje, segundo os psicólogos, são ainda maiores pelo excesso de informação disponível, o surgimento de novas profissões e a vulnerabilidade da economia. Mas isso pode ser usado a favor do estudante. “Por um lado, a maior oferta de cursos confunde mais, mas o jovem de hoje tem mais liberdade. A pressão social está muito menor”, afirma Regina Gatas, coordenadora da orientação vocacional da PUC-SP. Para ajudar os alunos do ensino médio, o Colégio Emilie de Villeneuve oferece disciplinas eletivas “profissionais”. São cursos semestrais de artes, jornalismo, ciências ambientais, direito e gastronomia. “Isso vai preparando o aluno para se responsabilizar por sua decisão”, afirma a coordenadora pedagógica Marly Benachio. Valores A pressão familiar, segundo os orientadores, é a que mais incomoda o jovem. Flávia Landroni, de 17 anos, não sabe se quer ser advogada por vontade própria ou pelo incentivo dos parentes. “Meu pai quer muito e tenho vários primos estudando”, conta. “Mas acho que não é isso que eu quero. Ainda vou decidir.” Para lidar com a pressão, os psicólogos afirmam que a melhor alternativa é o autoconhecimento. “O jovem precisa perceber onde termina a vontade dele e onde começa a do pai e a da escola, por exemplo”, explica Kátia Teixeira, psicóloga Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico. COMO DECIDIR Ajuda profissional Feiras de profissões Diálogo (Estadão) Data: 16/08/2010 |