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Artigo - O franco diálogo entre a cachorrinha Pretinha e Amundson ou porque me convenci da importância da regulamentação da profissão de designer - Parte 2

Wagner Braga Batista

 

 

Os dois, a cadelinha Pretinha e Amundson estavam indignados. Sentiam-se, assim como todos autênticos designers, ludibriados com distorções de processos de seleção, de concursos e de premiações.

 

Amundson, num surto de decência, qualificou-os como eventos puramente publicitários. Sugeriu que alguns destes happenings serviriam apenas para transferência e apropriação de recursos públicos. Ou, até mesmo, para a lavagem de dinheiro.

 

Acrescentou:

Há concursos que são verdadeiras fraudes. Servem  para viabilizar instituições e programas fantasma, verdadeiros cabides de empregos. São utilizados para justificar o aporte e o desvio de verbas públicas, para favorecer apaniguados e para viabilizar  investimentos improdutivos. São usados para manter um monte de burocratas no lugar de designers. Conferem notabilidade e visibilidade a pessoas que não são qualificadas ou habilitadas para fazer qualquer tipo de avaliação do design. Por isto, favorecem  indevida e indistintamente  jurados  e premiados. Essa fogueira de vaidades, muitas vezes alimentada com dinheiro público, incinera autenticas vocações e incensa mediocridades.

 

Amundson estava tão revoltado, que viajou na maionese:

A logomarca da Copa de 2014 causa vergonha até a quem não entende do recado. É fruto da falta de controle sobre estas instituições, federações, confederações  e clubes de futebol.

 

Não parou aí:

A falta de acompanhamento dos preparativos para sua realização da Copa  de 2014, no Brasil, ameaça a qualidade deste empreendimento.. A Confederação Brasileira de Futebol se beneficia de recursos e do transito em ministérios públicos e não presta conta de coisa alguma. A ninguém. Tripudia até do poder legislativo. Não tem transparência. Seu presidente acha-se acima de Deus e de todos os homens. Despreza até mesmo a imprensa e só tem deferências com seus patrocinadores. Esse time não é do Brasil é de uma instituição que se vale de seu nome: CBF.

 

A conversa ia longe.  Amundson falou de suas desventuras, de suas carências afetivas e também de seus desafetos. Pretinha, uma cadelinha sensível, sentiu-se fascinada por Amundson. Era como se, de repente, Sancho Pança se transformasse no cavaleiro da triste figura. Percebeu que o pobre Amundson, não tivera alternativas na vida. Por ingenuidade, seguira a lei de Gerson e se dera mal.

 

Como ele, Pretinha também fora volúvel. Tornara-se refém de sua vaidade. No entanto, ao se dar conta da falta de lisura e de critérios do júri. Caíra em si. Admitira que fora participar do júri para enriquecer seu currículo, ampliar seu portfólio. Na verdade não tinha  autoridade, nem legitimidade para emitir qualquer juízo sobre design.

 

Amundson também tivera esta postura. Reconhecia nele um homem digno e integro.

 

Repetia, insistentemente:

É forçoso reconhecer. Nossas atitudes e estas falsificações, não favorecem ninguém. Tudo isto depõe contra nós e contra o design.

 

Amundson relatava casos semelhantes que só faziam aumentar a indignação de Pretinha. Falou de editais formulados e avaliados por profissionais que não são designers. Dos cursos de design cujos professores não são designers. Dos colegiados de design compostos por pessoas que não são designers. Dos programas de design que são concebidos e geridos por pessoas que não são designers. Por comitês técnicos que emitem pareceres sobre projetos sem a participação de designers. Por associações de designers cujos dirigentes não são designers. Falou das tantas vozes que se contrapõem à regulamentação da profissão que se autodefinem como designers. Questionou renomados designers que nunca foram designers.

 

Concluiu:

Esta gente toda rema contra a corrente. Por isto os designers não conseguem regulamentar sua profissão.

 

Confidenciou para Pretinha:

Por conta destas distorções também me senti à vontade para me aventurar nesta seara. Todos acham que o campo do design é terra de ninguém. É a casa da mãe Joana.

 

Pretinha retrucou.

Pera lá, Amundson, todos não. Em  minha casa também há  uma  Joaninha e a bagunça não é tão grande assim.

 

Amundson era meio esquisito, mas era um sujeito de boa índole. Reconhecia seus erros e suas limitações. Como todo ser humano tinha fraquezas e virtudes. Como todos nós, mostrava-se propenso à superação de seus erros. Mais uma vez, penitenciava-se de seus pecados e se dizia solidário com a luta em defesa da regulamentação da profissão de designer.

 

Bem meus amigos, o conversa entre Amundson e a cadelinha Pretinha avançava pela noite adentro. Apesar de despertar a atenção deste cronista mundano e aclarar muitas vicissitudes do design, exigia prudência no olhar e na arte de relatar. Para resguardar a privacidade destes dois personagens, vamos nos deter aqui. Prometemos voltar na próxima semana com um novo episódio das aventuras de Amundson, de Pretinha, a cadelinha eticamente correta, e a saga da regulamentação da profissão de designer.

 

 

Wagner Braga é professor aposentado da UFCG


Data: 02/06/2010