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O que pesa mais na hora de ensinar: teoria ou prática?

Equilíbrio entre os dois aspectos é chave para sucesso em sala de aula

 

Quais são as diferenças e as vantagens que a trajetória profissional de cada professor gera no aprendizado dos alunos no Ensino Superior? É difícil precisar qual o melhor perfil que estudantes universitários precisam, o do professor que atua na área e tem amplo conhecimento do funcionamento do mercado e da profissão ou aquele com carreira mais voltada ao universo acadêmico com profundo saber teórico. Pode depender do tipo e do objetivo do curso. Essa, entretanto, não parece ser uma questão boa de ser analisada de forma maniqueísta. O equilíbrio entre essas duas características tem tudo para ser a chave de um bom aprendizado.

 

Segundo Luis Henrique Amaral, pró-reitor em graduação da Universidade Cruzeiro do Sul, um profissional que pretende se tornar professor deve se concentrar em alguns pontos importantes. "Precisa ter conhecimento da área, boa formação, didática e conteúdo do projeto pedagógico do curso", resume Amaral, que explica a importância da experiência prática do professor na vida de seus alunos. "O aluno vai entender como empregar aquele conhecimento teórico no mercado de trabalho", diz ele.

 

Mas segundo Amaral, apenas a transmissão de experiências por si só não é o suficiente para o desenvolvimento dos estudantes. Existem outros aspectos igualmente ou até mais importantes. "Títulos acadêmicos e anos de atuação na área podem impressionar no currículo, mas é a maneira como o mestre vai passar esse conteúdo para sua turma que vai determinar se ele é realmente bom", exemplifica o pró-reitor.

 

Quem concorda com esse ponto de vista é o aluno de engenharia civil do Mackenzie, Leonardo Sartoratto Rita, de 20 anos. Ele não esconde sua preferência por professores que consigam prender sua atenção e passar o conteúdo de uma maneira clara. "As dicas e as situações pelas quais ele passou na profissão são importantes para a formação do aluno, mas em primeiro lugar deve vir sua experiência como professor", conta o aluno que, depois do conteúdo, vê os benefícios de um professor inserido no mercado. "É nessa hora que ele pode dar dicas para aqueles que entraram no mercado, além de oportunidades para os outros", explica o estudante.

 

Brigida Ferraz Zinato, coordenadora de gestão de pessoas da UCB (Universidade Católica de Brasília), não discrimina profissionais sem experiência em suas áreas de atuação dentro do processo seletivo da universidade para a contratação de professores. De acordo com ela, figuram entre os requisitos básicos para a escolha os títulos - mestrado e doutorado -, um perfil traçado para descobrir seu método de aula e, por último, uma banca examinadora que tem como objetivo descobrir se a didática do candidato é realmente eficaz diante de uma turma.

 

A educadora acredita que outros pontos são ainda mais importantes na hora de lecionar do que apenas a experiência de mercado em si. "Nem sempre os bons profissionais atuam na área. Muitas vezes eles são apaixonados pelo assunto e se dedicam apenas à pesquisa", declara Brígida. Na opinião dela, os problemas podem surgir se o professor não conseguir se relacionar com os alunos. "Ele deve interagir não só com os alunos, procurando descobrir suas dificuldades e anseios, mas também com os profissionais da área em busca de pontos de apoio para os estudantes que estão prestes a ingressar no mercado", afirma ela.

 

Até agora, segundo Brigida, a prática de contratar docentes sem experiência de mercado não apresentou problemas e isso se deve ao envolvimento direto dos alunos na avaliação de desempenho dos professores. "As avaliações são feitas via sistema e variam de data de acordo com cada curso. Esses formulários eletrônicos servem para medir o grau de satisfação dos alunos com as aulas e também para manter os professores em constante atualização acadêmica", explica ela.

 

Apesar do método consolidado utilizado na instituição de Brigida, alguns estudantes revelam sua preferência por professores com vivência profissional. É o caso da estudante de engenharia de produção, Érica Costa, de 18 anos. Ela deixa claro que prefere professores que priorizem o aprendizado a partir de sua vivência no mercado de trabalho. "A visão teórica é muito limitada, ela não dá espaço para os imprevistos da profissão. É por isso que a visão de dentro da engenharia é crucial", opina Érica, que pretende atuar direto no mercado de trabalho. "O curso precisa passar uma base teórica para ser utilizada na prática. É claro que um não exclui o outro, mas a prática ainda é mais importante", opina ela.

 

Equilíbrio

 

O professor de técnicas de redação da Universidade Metodista e coordenador da agência Folha, Júlio Veríssimo, explica a maneira mais eficaz de um professor conseguir atender aos pedidos que são parecidos com o da aluna de engenharia. "O que une tanto o profissional de mercado quanto o acadêmico é a competência", defende o professor, que atua em ambas as áreas. Veríssimo acredita que quem ingressa na universidade pensa em atuar diretamente no mercado e que a vontade por lecionar vem depois. Ele aponta na direção de um equilíbrio e reforça que uma situação não exclui a outra.

 

Veríssimo defende que a própria natureza do curso acaba por moldar o melhor profissional para lecionar. "O curso de letras pode não precisar de um profissional atuante, mas você dificilmente vai encontrar um professor de medicina que nunca tenha atuado na área de saúde", exemplifica ele. A solução, segundo Veríssimo, para resolver esse impasse entre o mundo acadêmico e o profissional, está nas mãos das próprias instituições de Ensino Superior. "As boas universidades devem oferecer um profissional diversificado. Aquele que atua não pode teorizar apenas o seu local de trabalho, ele precisa passar para seus alunos uma visão ampla sobre o mercado e o teórico deve ser prático a ponto de orientar cada estudante dentro de suas necessidades acadêmicas", defende o profissional de comunicação.

 

O estudante de direito, Anderson de Oliveira dos Santos, de 25 anos, ilustra na opinião dele como o equilíbrio entre teoria e prática pode funcionar no caso do curso dele. Na opinião de Santos, as matérias teóricas de direito não precisam ser ministradas por um juiz ou promotor, mas ao longo do curso a experiência diária de um profissional seria necessária. "Mais cedo ou mais tarde, os dois profissionais serão importantes na formação dos alunos, por isso, o essencial é o contato com ambos durante o curso", defende Santos.

 

(Universia)


Data: 27/05/2010