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Estrutura deficiente prejudica desempenho profissional

Padrões ergonômicos ajudam a melhorar a performance no trabalho

 

Até que ponto a infraestrutura do local em que você trabalha afeta sua saúde ou seu desempenho profissional? De cara, trabalhar confortavelmente, com equipamentos que auxiliem uma boa postura do corpo, ajuda a minimizar as chances de ocorrência das chamadas "doenças de escritório", tais como LER (lesões por esforços repetitivos), Dort (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), tendinites, tenossinovites, desvios na coluna e hérnia de disco, entre outros. Embora não seja de conhecimento corrente, existe um conjunto de regras e padrões que deveriam ser seguidos pelas empresas para garantir a seus funcionários um padrão mínimo de conforto para que eles possam trabalhar sem correr riscos.

 

"Para que a empresa possa prevenir essas doenças entre seus funcionários é necessário que ela tenha equipamentos adequados às normas ergonômicas, previstas na NR-17 (Norma Regulamentadora)", explica Valmir Antonio Zulian Azevedo, professor da área de saúde do trabalhador do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A NR-17, medida criada pelo Ministério do Trabalho, tem como objetivo estabelecer parâmetros ergonômicos que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

 

Azevedo diz também que as empresas que investem e adequam seus equipamentos aos padrões ergonômicos propiciam um melhor desempenho dos funcionários, ou seja, qualidade para o funcionário significa em última análise, ganhos para as empresas. "Quando o empregado percebe que a empresa oferece uma melhor condição de trabalho ele se sente valorizado, trabalha melhor", resume o professor. Não é só a adequação a esses padrões que fazem com que os funcionários passem a ter melhor desempenho no trabalho e consigam evitar problemas à saúde. "Em alguns casos, é necessário que a empresa providencie fazer rodízios entre os empregados, para que eles não fiquem em um só lugar ou façam apenas uma coisa. Além de providenciar melhorias na organização, oferecer pausas em algumas situações e ginástica laboral ajuda a melhorar a disposição do trabalhador e auxiliar em seu desempenho", acrescenta o professor da Unicamp.

 

Mas antes que se coloque a culpa na estrutura da empresa para justificar seus problemas Felipe Dytz, coordenador do programa de mobiliário da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), avisa que é difícil precisar se as doenças e as dores são efeitos ou não somente do mobiliário e do ambiente de trabalho. "Nem sempre os problemas estão ligados a infraestrutura, mas à postura do funcionário. Portanto, a recomendação é que a empresa, além de se adequar às normas técnicas existentes, contrate profissionais que ensinem e auxiliem os funcionários a se postarem durante as atividades e evitem assim doenças e afastamentos desnecessários", sugere Dytz. Ele diz ainda que as empresas que não se adequam a esses padrões não conseguem tirar o certificado da ABNT, necessário para participação em licitações públicas.

 

Jandira Maciel da Silva, professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), também reforça o argumento de que o bem-estar no ambiente de trabalho é de responsabilidade compartilhada. Segundo ela, as normas não garantem a inexistência de doenças ou males à saúde, o trabalhador também tem papel fundamental no sentido de prevenir doenças. "Cabe a cada um procurar informações sobre os riscos que podem existir dentro do ambiente de trabalho. O que não pode acontecer, é o funcionário deixar o problema se agravar apenas para ganhar algum tipo de benefício em cima disso", afirma ela. Apesar desse coro à responsabilidade compartilhada, Jandira faz questão de alertar que grande parte dos acidentes de trabalho não são causados pelos funcionários e que isso, quase sempre, está relacionado com o ambiente em que se atua, seja pela pressão que recebe para atingir suas metas, seja pela infraestrutura oferecida pela empresa.

 

Malefícios mútuos

 

Uma das providências citada por Dytz para identificar se a infraestrutura do trabalho faz mal para a saúde do funcionário, é que os gestores fiquem atentos às queixas sobre dores de seus subordinados. "Se elas forem crônicas, ou seja, contínuas, tem grandes chances de estar vinculada à inadequação da infraestrutura ou da postura do funcionário", diz o coordenador da ABNT. Ele afirma ainda que o afastamento desnecessário dessas pessoas é ruim tanto para o empregador quanto para o empregado. "De um lado temos a empresa, que terá de arcar com os custos, do outro o funcionário, que poderá ter sequelas por longos períodos", alerta ele.

 

Além das normas ergonômicas de mobiliário para escritórios e estações de trabalho, a NR-17 previne também os empregados que exercem trabalhos em condição de levantamento, transporte e descarga de materiais, em que o transporte manual de cargas tenha o peso suportado inteiramente por um só trabalhador o que compreende o levantamento e a deposição da carga. "Mesmo com as normas técnicas para adequação de um ambiente de trabalho confortável, algumas empresas ainda não oferecem esse tipo de infraestrutura para melhorar o desempenho de seus funcionário", critica Roberto Moraes Cruz, professor do Departamento de Psicologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Ele afirma ainda as empresas não oferecem exames periódicos para detectar possíveis problemas com antecedência e, a partir daí, evitá-los.

 

Esses padrões se atentam também aos ambientes em que são exigidos níveis de atenção constantes, como salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, entre outros, com relação não só a ergonomia do mobiliário, mas também com o ambiente. Nesses casos, o nível de ruído deve ser de até 65 decibéis, índice estabelecido na NBR 10.152 de conforto acústico registrado no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), índice de temperatura efetiva entre 20 e 23°C e umidade relativa do ar não inferior a 40 por cento.

 

O coordenador da ABNT faz um alerta para que os funcionários que identificarem o não cumprimento das normas na empresa em que atuam, devem conversar com os gestores e solicitar reparos antes que aconteçam agravos à saúde. "Se não houver solução prévia, os funcionários ainda são protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, que prevê que se existem normas técnicas elas devem ser cumpridas, e o trabalhador lesado pode entrar na justiça por reparação de danos", lembra ele.

 

Para o professor da UFSC, um risco para a saúde pode ser um grave desconforto que o trabalhador sinta, mas que sem uma análise prévia pode migrar para um micro traumatismo. "Às vezes, o empregado nem sente que está traumatizado, pois muitos desses agravos não são as doenças em seu sentido final, mas que podem progredir com o tempo", adverte Cruz. Ele alerta também para aspectos que não são mencionados nas normas da ABNT, mas que teriam importância similar no bem estar dos profissionais.

 

Cruz cita a relação com outros funcionários ou com o próprio trabalho como coisas que podem desencadear transtornos psicológicos, como estresse e depressão. "Do ponto de vista da ergonomia, esses padrões são apenas pontos de partida para que a empresa possa oferecer uma boa infraestrutura ao funcionário. As normas regulamentadoras dão uma feição geral para todos se guiarem, mas isso não significa que a empresa não deve cuidar também do que está fora da norma", defende Cruz.

 

(Universia)


Data: 05/05/2010