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Artigo - Os Barnabés, a promiscuidade administrativa em Brasília e a nova classe que se refestela com dinheiro público - Parte 4

Wagner Braga Batista

 

Nesta mesma publicação (1) outra matéria precedente exalta o neoliberalismo. Sugere: vamos tirar Brasília de nosso bolso. Habilmente, articula-se com a denúncia destas excrescências. Seu objetivo, restaurar velhos mecanismos de exclusão social.

 

Mais uma vez, voltamos ao senso comum. Por que promoveria exclusão social?

 

São exatamente princípios e práticas ultra liberais que viabilizam e legitimam estas disparidades. Que consagram as desigualdades e o luxo como expressões de liberdade. Como direitos de fruição assegurados aos empreendedores, aos espertos, aqueles que sabem obter vantagens em todas as esferas da vida social.

 

Senão, vejamos o que diz o teórico austríaco, Ludwig von Mises, expoente da restauração liberal, enaltecido na matéria supracitada:

 

O luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Cada avanço, primeiro surge como um luxo, de poucos ricos, para daí a pouco, tornar-se uma necessidade por todos julgada indispensável. O consumo de luxo dá a indústria o estímulo para descobrir e introduzir novas coisas. É um dos fatores dinâmicos da nossa economia. A ele devemos as progressivas inovações por meio das quais o padrão de vida de todos os estratos da população se tem elevado gradativamente.” (2)

 

O que tenta dizer? A soberba e o luxo são emulações virtuosas que devem ser reproduzidas historicamente. No entanto, a arrogância e a ostentação nunca foram virtudes, nem tampouco valores morais, atemporais ou universais.

 

Cinicamente, ideólogos que renegam a História, tentam projetá-la como expressão de deformidades do momento presente. Como reprodução de relações sociais degradantes e cristalização de desigualdades hodiernas.

 

Colocados neste saco de gatos, nós, servidores públicos, somos confundidos com parasitas que compõem esta nova classe. Que se valem do patrimonialismo arcaico, de expedientes administrativos inaceitáveis e da promiscuidade política para obter vantagens à custa de restrições impostas ao conjunto dos servidores públicos. À custa da subtração de direitos de populações carentes e marginalizadas, que não tem acesso, nem transito em esferas de atuação desta nova classe. Graças a essa performance exclusiva e excludente, sentem-se confortáveis. Não se constrangem de esbanjar dinheiro público, de exibir padrões de vida requintados e, ainda, se vangloriar destes abusos.

 

Precisamos alertar a população brasileira, dependente de serviços públicos e alijada destes círculos de poder restritos, que este tipo de gente não somos nós, funcionários públicos. Que estes ambientes são a antítese de espaços públicos. São círculos de poder restritos nos quais impera a negociação de interesses privados.

 

É preciso evidenciar que há duas Brasílias. Há a suntuosidade palaciana, assim como seus arredores e as cidades satélites. Desenham assimetrias que perverteram o projeto socialista de Oscar Niemeyer. Que transformaram a capital federal, apesar da exuberância apresentada em alguns indicadores econômicos, em uma das cidades mais excludentes do mundo. A exclusão planejada, mapeada e viabilizada pela dinâmica do sistema econômico e pelo direcionamento do poder político no Brasil.

 

Converteram Brasília em cidade ícone da urbanização parasitária, que reproduz contemporaneamente, em escala ampliada, o recorte original entre administradores e produtores, entre cidade e campo. Ou seja, a urbanização sem industrialização, sem desenvolvimento econômico. A urbanização planejada para excluir a pobreza.

 

É preciso denunciar, também, a disjunção existente no serviço público. A divisão que separa duas classes de funcionários públicos. Os que se inserem nesta condição e aqueles que apenas se servem do dinheiro público. Essa nova classe composta de parasitas, apaniguados, neófitos, transitórios aliados do camarada Lula.

 

 

(1) Revista Época, edição nº 622, 19 de abril de 2010.

(2) VON MISES, Ludwig (1987) Liberalismo, segundo a tradição clássica, José Olympio Editora / Instituto Liberal, RJ, 1987, p 34 / 35 (1927).


Data: 23/04/2010